17 de ago. de 2011

Amizade sem trato [Martha Medeiros]

Dei pra me emocionar cada vez que falo dos amigos. Deve ser a idade, dizem que a gente fica mais sentimental. 
Mas é fato: quando penso no que tenho de mais valioso, os amigos aparecem em pé de igualdade com o resto da família. E quando ouço pessoas dizendo que amigo, mas amigo meeeesmo, a gente só tem dois ou três, empino o peito e fico até meio besta de tanto orgulho: eu tenho muito mais do que dois ou três. São uma cambada. Não é privilégio meu, qualquer pessoa poderia ter tantos assim, mas quem se dedica? Fulano é meu amigo, Sicrana é minha amiga. É nada. São conhecidos. Gente que cumprimentamos na rua, falamos rapidamente numa festa, de repente sabemos até de uma fofoca sobre eles, mas amigos? Nem perto. Alguns até chegaram a ser, mas não são mais por absoluta falta de cuidado de ambas as partes. Amizade não é só empatia, é cultivo. Exige tempo, disposição. E o mais importante: o carinho não precisa - nem deve - vir acompanhado de um motivo. As pessoas se falam basicamente nos aniversários, no Natal ou para pedir um favor - tem que haver alguma razão prática ou festiva para fazer contato. Pois para saber a diferença entre um amigo ocasional e um amigo de verdade, basta tirar a razão de cena. Você não precisa de uma razão. Basta sentir a falta da pessoa. E, estando juntos, tratarem-se bem.Difícil exemplificar o que é tratar bem. Se são amigos mesmo, não precisam nem falar, podem caminhar lado a lado em silêncio. Não é preciso trocar elogios constantes, podem até pegar no pé um do outro, delicadamente. Não é preciso manifestações constantes de carinho, podem dizer verdades duras, às vezes elas são necessárias. Mas há sempre algo sublime no ar entre dois amigos de verdade. Talvez respeito seja a palavra. Afeto, certamente. Cumplicidade? Mais do que cumplicidade. Sintonia?Acho que é amor. Só mesmo amando para você confiar a ele o seu próprio inferno. E para não invejarem as vitórias um do outro. Por amor, você empresta suas coisas, dá o seu tempo, é honesto nas suas respostas, cuida para não ofender, abraça causas que não são suas, entra numas roubadas, compreende alguns sumiços - mas liga quando o sumiço é exagerado. Tudo isso é amizade com trato. Se amigos assim entraram na sua vida, não deixe que sumam.Porém, a maioria das pessoas não só deixa como contribui para que os amigos evaporem. Ignora os mecanismos de manutenção. Acha que amizade é algo que vem pronto e que é da sua natureza ser constante, sem precisar que a gente dê uma mãozinha. E aí um dia abrimos a mãozinha e não conseguimos contar nos dedos nem doisamigos pra valer. 
E ainda argumentamos que a solidão é um sintoma destes dias de hoje, tão emergenciais, tão individualistas. 
Nada disso. A solidão é apenas um sintoma do nosso descaso.

Solteirice não é sinônimo de solidão [Ceci Akamatsu]

"Ter vontade e querer encontrar 
um parceiro é diferente de ter isso
como objetivo, como algo que precisa 
acontecer em nossa vida. Portanto,
solteirice e solidão só estão associados 
quando assim escolhemos. "
Reflita sobre o peso que coloca no fato de possuir ou não companhia...

Ao pensarmos rapidamente, associamos o "estar solteiro", ao simples fato não ter um parceiro afetivo. Porém, se olharmos mais profundamente, perceberemos como muito mais coisas podem estar por trás dessa palavra. Quando ouvimos que alguém está solteiro, diversos sentimentos podem passar em nossa cabeça: para alguns denotará algo alegre, como diversão, farra, liberdade. Para outros, serão associados significados mais tristes, como solidão e sensação de que falta algo, de estar incompleto. Estar solteiro é um estado civil no mundo externo, no seu significado convencional, mas em nosso mundo interno pode ter vários sentidos.

CONSEQUÊNCIAS DE NOSSAS ESCOLHAS

Muitas pessoas acham que a solteirice deve ser um estado transitório, um momento em que nos preparamos para ter um par, como se ter um relacionamento fosse o objetivo de se estar solteiro. Essa é justamente uma das causas do sentimento de solidão que muitas vezes sentimos quando estamos solteiros. Se partimos do princípio que nosso objetivo é encontrar alguém, criamos o sentimento de falta dentro de nós. Ter vontade e querer encontrar um parceiro é diferente de ter isso como objetivo, como algo que precisa acontecer em nossa vida. Portanto, solteirice e solidão só estão associados quando assim escolhemos.  
Basta lembrar que podemos nos sentir solitários mesmo estando em um relacionamento. O sentimento de solidão e de falta são consequência das escolhas que fazemos em relação ao modo como queremos vivenciar nossa vida. Estão longe de ser causadas pelo que está fora de nós, como pelo fato de não ter um parceiro amoroso.
Há quem não goste de estar solteiro e reclame da falta de uma companhia, de alguém para dividir sua vida. Tais pessoas sentem-se muito mal e perdem até a vontade de sair de casa e de participar de atividades sociais, afinal estão todos acompanhados e estar só é uma situação constrangedora. De fato, existe uma pressão externa das pessoas, quase como uma regra que exige que tenhamos um par afetivo, como um pré-requisito de ser um pessoa normal ou bem sucedida. Principalmente a partir de certa idade, é quase uma obrigação ter um parceiro. Porém, nós é quem escolhemos acatar ou não essa regra social. Não há certo ou errado, mas se escolhemos acatá-la, escolhemos também vivenciar o mal-estar que essa escolha representa ao estar só, e portanto teremos de arcar com os sentimentos de frustração.

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Será que estar solteiro realmente é algo assim tão difícil para a vida social, ou somos nós quem colocamos muito peso e valor à regrinha de "ter que" possuir um parceiro?

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DISFARCES, MEDO E APRENDIZADOS PESSOAIS

Se para muitos estar solteiro é visto como algo negativo, para outros é sentido como sinônimo de liberdade. Ainda que aparentemente quem percebe a solteirice de modo positivo esteja bem resolvido, isto não necessariamente é verdade. Toda a movimentação social e convicção ao dizermos que preferimos estar solteiros podem ser simplesmente uma disfarce para o medo e para a fuga dos relacionamentos mais profundos. A constante companhia de outras pessoas, ou os seguidos relacionamentos românticos superficiais podem não ser uma escolha de curtir a vida desta maneira, mas distrações que refletem a fuga em lidar com nossas próprias dificuldades de relacionamento. As pessoas costumam dizer que os relacionamentos são difíceis, mas os relacionamentos são relacionamentos, nem fáceis nem difíceis. Somos nos quem ainda não aprendemos a lidar com eles e conferimos a eles essa qualidade. A dificuldade está em nós e não na relação. Se a outra pessoa é difícil, ela nada mais é do que um reflexo de nossa própria falta de habilidade em nos relacionar.
Como saber se estamos nos deixando levar pelas pressões internas ou externas e deixando de fazer nossas verdadeiras escolhas? Geralmente os sentimentos autênticos e disfarçados se misturam e cabe a nós utilizar toda a nossa honestidade com nós mesmos para reconhecer o quanto estamos nos iludindo. Só mesmo cada um de nós lidando individualmente com nossa verdade mais profunda pode descobrir isso. Pode ser estranho, desagradável e até dolorido reconhecer como nós nos enganamos. Podemos sentir vergonha e culpa em assumir, nem que seja para nós mesmos, aquilo que consideramos "fraquezas" ou "fracassos", mas que na realidade são apenas nossos desafios e aprendizados pessoais.
Não importa se estamos sós ou acompanhados, enquanto nosso foco estiver na opinião das pessoas, na existência ou não de um parceiro afetivo, ou em qualquer outra coisa lá fora, estaremos continuamente sujeitos aos sentimentos de insegurança e frustração. Podemos sim, enquanto solteiros, verdadeiramente nos preparar para um novo relacionamento e curtir a vida social e relacionamentos mais superficiais, porém, isso só é possível quando é uma escolha verdadeira e sincera com nós mesmos, e não uma resposta às nossas carências e pressões externas, ou uma fuga de nossas questões mal resolvidas internamente.
Se soubermos reconhecer o que efetivamente se passa dentro de nós, saberemos curtir a nossa individualidade e estaremos felizes, independente do estado civil!

3 de ago. de 2011

O amor bom é facinho [Ivan Martins]

Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?

Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Minha experiência sugere o contrário.

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada. 

1 de ago. de 2011

Paula fernandes - Voa


Composição: Paula Fernandes

Se esta pensando em voar
Na direção de me amar
Voa, voa

Não tenha medo de dizer que quer
Vamos fazer o que você quiser
Voa, voa

E serei eu que em um dia então
Vou te fazer delirar de paixão
Nesse prazer somos eu e você
Vamos, voa, voa

Num colorido pintado no céu
Num voo livre de nuvem de mel
No paraíso só eu e você
Vamos voa, voa

Mais adiante vai sentir o quanto se apaixonou
Voa comigo vem seremos dois pombinhos de amor.

Onde está você? [Valéria Lopes]

Onde está você que entrou em minha vida mansamente sem pedir licença...
Que tomou conta do meu coração e dominou todos os meus sentimentos?
Onde está você... Que romanticamente cativou a minha alma... E acendeu meus olhos para um caminho diferente?
Onde estão tuas palavras que um dia doce conquistaram cada parte de mim... E me puseram a sonhar com teu rosto... Fantasiando o futuro com você ao meu lado?
Há tantas interrogações... Meu coração... Indaga sobre tua presença... E convive com silêncio da solidão de tua ausência...
Cadê o conto de fadas, a música de amor que embalou nossos desejos... E nos transformou com a magia da paixão em apenas um?
Hoje cada fase do meu sonho revela o abandono... A carência... Teus passos se afastaram de mim... Escureceram meu mundo... Com a solidão de dias sem cor...
Todas as coisas... Tornaram-se inexistentes desde o dia em que você se foi...
Tento rascunhar uma nova vida para mim...
Apagando qualquer lembrança do passado...
Mas meus pensamentos fogem de mim e me levam até você...
Perdida neste passado te encontro com os meus olhos cheios de lágrimas porque tento te tocar e não consigo porque tua imagem é como o ar que não se pode tocar... Mas apenas sentir... E eu te sinto em toda parte... Mesmo sem te ter aqui...
Os dias amanhecem tristes e minha mente obedece ao meu coração que te procura entre tantas perguntas... Porque sente tua falta... Sente saudade...
Então cadê você... Onde está você agora além de estar aqui dentro de mim???
Onde está aquele que balançou meus sentimentos e me condenou a não amar mais ninguém...
Onde está você que mesmo com o passar do tempo... Ainda se mantém bem vivo em mim. E que mesmo no vazio de tua ausência ainda faz parte de mim!!!

Sugestões Para Atravessar Agosto [Caio Fernando Abreu]

Para atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e . Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah! Escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar viveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos – ou precauções-úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade…Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas – coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.


(6/8/1995 – para o jornal O Estado de são paulo)