31 de jul. de 2012

Para atravessar AGOSTO [Caio Fernando Abreu]

Para atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e fé. 
Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; 
fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. 
São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições.
Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade.Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. 
Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. 
Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, 
viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. 
Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. 
E beijos, muitos. 
Bem molhados.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. 
Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

O pensamento tem poder infinito [Pablo Neruda]

Ele mexe com o destino, acompanha a sua vontade.
Ao esperar o melhor, você cria uma expectativa positiva que detona o processo de vitória.
Ser otimista é ser perseverante, é ter uma fé inabalável e uma certeza sem limites de que tudo vai dar certo.
Ao nascer o sentimento de entusiasmo, o universo aplaude tal iniciativa e conspira a seu favor, colocando-o a serviço da humanidade.
Você é quem escreve a história de sua vida - ao optar pelas atitudes construtivas - você cresce como ser humano e filho dileto de DEUS.
Positivo atrai positivo.
Alegria chama alegria.
Ao exalar esse estado otimista, nossa consciência desperta energias vitais que vão trbalhar na direção de suas metas.
Seja incansavelmente otimista. Faz bem para o corpo, para a mente e para a alma.
É humano e natural viver aflições, só não é inteligente conviver com elas por muito tempo.
Seja mais paciente consigo mesmo, saiba entender suas limitações.
Sem esforço não existe vitória.
Ao escolher com sabedoria viver sua vida com otimismo, seu coração sorri, seus olhos brilham e a humanidade agradece por você existir.

29 de jul. de 2012

Castle 4x23


Discurso da Alexis, no season finale da quarta temporada de Castle (episódio 4x23). A música BELÍSSIMA de fundo é "In my veins", com Andrew Belle. 


“Há uma verdade universal que todos precisamos aceitar querendo ou não: tudo acaba algum dia. Mesmo tendo esperado muito por esse dia, eu nunca gostei de finais. O último dia do verão, o último capítulo de um livro, despedir-se de um amigo próximo. Mas finais são inevitáveis. As folhas caem. Você fecha o livro. Diz Adeus. Hoje é um desses dias para nós. Hoje dizemos adeus a tudo que era familiar, a tudo que era confortável. Estamos seguindo em frente. Mas mesmo ao estarmos partindo e isso dói, há pessoas que fazem tanto parte de nós que estarão conosco não importa o que houver. Eles são nosso chão, nossa Estrela Polar e as vozes em nossos corações que estarão conosco SEMPRE.” 

28 de jul. de 2012

Individualismo não é Egoísmo [Flávio Gikovate]


Individualismo é uma palavra que provoca polêmicas e mal-entendidos.

Penso que, quando isso acontece, é porque o termo está sendo usado com múltiplos significados, o que desencadeará emoções diferentes de acordo com o modo como cada um a entenda.

Individualismo é palavra que determina juízo negativo quando é usada como sinônimo de egoísmo. O mesmo acontece quando ela é usada para descrever uma pessoa incompetente para relacionamentos afetivos e para uma adequada integração em grupos de convívio.

Vale a pena uma reflexão mais rigorosa a respeito do tema, especialmente porque temos vivido uma fase da nossa história na qual cresce a tendência na direção do individualismo.

O individualismo tem crescido basicamente em função dos avanços tecnológicos que nos levam a passar cada vez mais tempo em atividades solitárias, tais como o uso do computador, de 'mp3 player', de jogos eletrônicos etc.; isso desde os primeiros anos de vida.

É fato também que a disponibilidade da maioria das mães diminuiu porque elas hoje também trabalham fora de casa. Além disso, é cada vez mais difícil para as crianças conviverem com outras da mesma idade de forma espontânea, já que as ruas não são mais o 'playground' que eram.

Podemos definir o individualismo como a capacidade de exercer a própria individualidade. É curioso porque a palavra individualidade tem conotação positiva, como a conquista de um estado de autonomia. 

Nascemos totalmente sem identidade e em estado de fusão com nossas mães. Levamos mais de 20 anos para completar o processo de desenvolvimento interior que definirá nossa individualidade.

Ela é, talvez, uma das nossas maiores conquistas: conseguimos finalmente nos reconhecer como um ser autônomo, com pensamento próprio e pontos de vista construídos a partir de nossas próprias vivências - é claro que influenciado por tudo o que nos cerca.

A individualidade nos faz consciente de nossa condição de solitários, de que todos os contatos que estabelecemos com “os outros” é um tanto precário, que nem sempre somos tão bem entendidos como gostaríamos, isso porque o modo de pensar de cada cérebro é único e a comunicação nem sempre se estabelece. 

Por anos lutamos contra a sensação de solidão determinada pela constituição da nossa individualidade. Creio que nós, como espécie, ainda lutamos contra essa condição e só estamos nos aproximando dela em virtude dos avanços tecnológicos que estão nos “forçando” a dar continuidade ao processo de emancipação que sempre tendemos a interromper.

Os processos contrários à individualidade fazem parte do fenômeno amoroso, da tendência que temos de nos aconchegar inicialmente em nossas mães e depois em seus substitutos adultos - relacionamentos amorosos, patriotismo etc.

Ao nos colocarmos como defensores do amor e das tendências gregárias que dele resultam, nos posicionamos, nem sempre de modo consciente, contra o desenvolvimento da nossa individualidade. Passamos a considerá-la como nociva ao bem comum, como algo que nos impediria de pensar também no próximo. 

Para preservar o termo “individualidade”, altera-se o foco das críticas para outra palavra com significado semelhante. Aqueles que são favoráveis às causas coletivas se colocam contra o individualismo - que significa apenas o exercício da individualidade, algo que eles mesmos consideram positivo.

Compreendo a aflição das pessoas diante de um ponto de vista novo e aparentemente contraditório com o que se habituaram; ou seja, de que o individualismo implica em egoísmo e descaso pelo outro.

Do meu ponto de vista, porém, não vejo nenhuma contradição entre o exercício pleno da nossa individualidade e o desenvolvimento do sentido moral e de solidariedade social. Ao contrário, tenho observado que o incompleto desenvolvimento emocional das pessoas - o que, na prática, implica no não atingimento do estágio individualista - acaba por provocar condutas moralmente duvidosas.

Assim sendo, não só não creio que o individualismo não é sinônimo e nem implica em egoísmo como é forte a convicção que tenho na direção oposta: o egoísmo deriva da imaturidade emocional que se caracteriza pelo incompleto desenvolvimento da individualidade.

O egoísta não pode ser individualista porque ele tem que ser favorável à vida em grupo já que não tem competência para gerar tudo aquilo que necessita. É do grupo - ou de algumas pessoas pertencentes ao grupo - que irá extrair benefícios. 

O egoísta é aquele que precisa receber mais do que é capaz de dar. É um fraco e não um esperto. Ou melhor, é esperto porque é fraco e precisa usar a inteligência para ludibriar outras pessoas e delas obter o que necessita e não é capaz de gerar. O egoísta tem que ser simpático e extrovertido. Não é assim porque gosta das pessoas e de estar com elas. É assim porque precisa delas e tem que seduzi-las com o intuito de extrair delas aquilo que necessita.

Uma outra forma de imaturidade emocional, menos dramática que o egoísmo, é a generosidade. 

O generoso precisa se sentir amado e benquisto. Para atingir esse objetivo faz qualquer tipo de concessão. O egoísta percebe isso - é esperto e atento a todas as oportunidades de se beneficiar - e trata de obter os favores práticos que o generoso está disposto a prestar com o intuito de se sentir aconchegado.

Compõe-se uma aliança sólida e nociva entre esses dois tipos de pessoas imaturas e dependentes: o egoísta depende para aspectos práticos da sobrevivência e o generoso depende para aspectos emocionais de aconchego e de não se sentir sozinho.

Esse tipo de aliança define um tipo comum de elo amoroso que E. Fromm chamava de sadomasoquista: o sádico é o egoísta e o masoquista o generoso. Existe uma interdependência na qual o mais poderoso - porque o menos imaturo - é o generoso ou o masoquista. Sim, porque até mesmo no sadomasoquismo sexual quem dá as cartas é o masoquista!

Há 40 anos venho tentando desvendar e desfazer essa trama, a meu ver muito duvidosa, que se estabelece entre os “bons” - generosos - e os “maus” - egoístas. Há mais de quatro décadas luto contra essa dualidade que não tem nos levado a parte alguma e que se transmite, através do exemplo, de geração em geração. 

Há décadas tento ver o que existe para além do bem e do mal. Tenho buscado com tenacidade e persistência um modo de ser que seja verdadeiramente moral e não esse padrão que dá virtude à generosidade e que implica obrigatoriamente na existência de igual número de egoístas. A generosidade não é virtude porque ela se exerce perpetuando o modo de ser egoísta daquele que é seu beneficiário.

Considero importante distinguir generosidade de altruísmo: esse último corresponde a ajuda anônima a terceiros desconhecidos ou pouco conhecidos, de modo que não implica no reforço do egoísmo, já que não existe trocas íntimas.

Egoísmo e generosidade interagem e se reforçam de modo negativo nas relações íntimas entre casais, entre pais e filhos, entre sócios e na sociedade como um todo.

Há décadas venho afirmando que o egoísmo só irá desaparecer quando desaparecer a generosidade. Ou seja, o parasita só desaparecerá quando não houver mais hospedeiro a ser parasitado. Assim sendo, todo aquele que defender a generosidade como virtude estará indiretamente defendendo a existência de egoístas!

A superação da dualidade egoísmo-generosidade corresponde ao modo de ser que chamo de justo: aquele no qual não se recebe mais do que se dá, mas também não se dá mais do que recebe.

O justo terá que ser um indivíduo independente, tanto do ponto de vista prático como emocional. Não poderá necessitar de ninguém para as questões práticas da sobrevivência, como é o caso do egoísta. Não poderá necessitar de ninguém do ponto de vista do aconchego emocional, como é o caso do generoso. Isso não significa que não deseje estabelecer elos nos quais hajam trocas de todos os tipos. Trocas justas.

Não se deve desprezar também a diferença entre necessidade e desejo. No caso do desejo, o que está em jogo é o prazer e não a necessidade, de modo que tendemos a ser muito mais cuidadosos na “contabilidade” que envolve as trocas com os que nos cercam. 

Pessoas maduras emocionalmente gostam de se relacionar social e afetivamente. Por não precisarem vitalmente das outras pessoas não são obrigadas a estar com elas o tempo todo, como costuma acontecer com os egoístas, mais imaturos e dependentes.

Pessoas mais maduras gostam também de ficar consigo mesmas, com seus pensamentos, seus sonhos, suas músicas, seus livros, etc. Pessoas mais maduras são aquelas que desenvolveram mais firmemente sua individualidade e chegaram a um modo de ser que lhes agrada; assim, conviver consigo mesmas também é um bom programa!

Pessoas mais maduras são, pois, individualistas, aquelas que exercitam com prazer suas individualidades.

Costumam preferir um convívio social mais restrito, de modo que são mais exigentes na escolha dos seus amigos e conhecidos. Outras não se sentem muito gratificadas com as interações humanas e pode muito bem ser que prefiram uma vida mais solitária. Especialmente aquelas que já se conciliaram com essa peculiaridade da nossa condição. 

Sim, porque é provável que uma das razões pelas quais temos demorado tanto para atingir esse estágio que pode ser chamado de nascimento emocional deriva da nossa dificuldade de aceitar a condição de seres únicos e sozinhos.

Nascemos fisicamente no momento do parto e só depois de vários meses conseguimos nos reconhecer como separados de nossas mães, o que corresponde ao nascimento psicológico.

Parece que precisamos mais de 20 anos para que aconteça o nascimento emocional, isso para aqueles poucos que conseguem chegar até aí!

Reafirmo minha convicção que o individualismo corresponde ao atingimento da maturidade emocional, condição indispensável para o estabelecimento de relações afetivas de qualidade e também o surgimento de um efetivo avanço moral entre nós.

Essa é a boa notícia que deriva das dramáticas e nem sempre adequadas mudanças que temos acompanhado nos últimos 50 anos. Espero que tenhamos tempo para vê-la florescer, o que só acontecerá se o mundo não acabar justamente em mais uma guerra entre o “bem” e o “mal”!

8 de jul. de 2012

Tempo de Agradecer

Só eu sei o quanto desejei, o quanto batalhei, o quanto sacrifiquei (no passado e no presente) para estar onde estou...
Se hoje estou feliz, colhendo frutos e tendo a oportunidade de semear novas sementes, é graças ao caminho que percorri pelas escolhas que fiz...
Muitos foram fundamentais nesse processo e sei que não é pelas palavras que conseguirei agradecer ou retribuir.
Assim como o tempo me trouxe para colher os frutos, tenho certeza que os que investiram em mim (seja com afeto, apoio financeiro ou o que quer que seja), também receberão da vida o que lhes é devido.


=)


[G.Z.]

Quem quiser que me acompanhe [Tico Santa Cruz]

Algumas pessoas esperam que eu seja como era quando não havia vivido tudo que vivi até agora. 
Como se fosse possível repetir as mesmas palavras, as mesmas reflexões, os mesmos pontos de vista. 
Como se eu fosse um peixe num aquário rodando de um lado para outro sem memória e repetindo sempre os mesmos movimentos. 
O mundo mudou. 
Você mudou. 
Mudei também. 
Muito foi feito e desfeito até aqui e como poderíamos ser iguais?
Por quantos lugares já passei?
Quantos livros já li? 
Quantos textos já publiquei?
Seria perda de tempo ser igual ao que era tempos atrás e se ainda estivesse pensando, escrevendo e agindo da mesma forma, qual seria a vantagem da minha existência?
Pense se estás repetindo as mesmas atitudes e esperando resultados diferentes.
Diante de todas as mudanças no mundo, é perfeitamente natural que eu mude também. 
Em alguns aspectos para melhor em outros nem tanto. 
Esperar que os outros sejam como quando os conhecemos é bobagem.
Pessoas assim são monótonas e entediantes.
Mudarei conforme as mudanças alterem minha percepção e disso farei meu caminho por este lugar.
O congelamento não me interessa.
Só não hei de mudar em vão, apenas para agradar aos outros.
Quem quiser que me acompanhe...

5 de jul. de 2012

Sinto saudades - Clarice Lispector

Das vantagens de ser bobo - Clarice Lispector por Aracy Balabanian


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." 

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia. 

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. 

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. 

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?" 

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! 

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. 

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem. 

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! 

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector

4 de jul. de 2012

Para não Evaporar (Martha Medeiros)

“Dei pra me emocionar cada vez que falo dos amigos. Deve ser a idade, dizem que a gente fica mais sentimental. Mas é fato: quando penso no que tenho de mais valioso, os amigos aparecem em pé de igualdade com o resto da família. E quando ouço pessoas dizendo que amigo, mas amigo meeeesmo, a gente só tem dois ou três, empino o peito e fico até meio besta de tanto orgulho por ter mais do que isso. Não é privilégio meu, qualquer pessoa poderia ter tantos assim, mas quem verdadeiramente se dedica?

Tem gente que costuma dizer: Fulano é meu amigo, Beltrana é minha amiga. É nada. São conhecidos. Gente que cumprimentamos na rua, conhecemos numa festa... não são amigos. Nem de perto. Alguns até chegaram a ser, mas não são mais por absoluta falta de cuidado de ambas as partes. Amizade não é só empatia, é cultivo. Exige tempo, disposição. E o mais importante: o carinho não precisa - nem deve - vir acompanhado de um motivo. As pessoas se falam basicamente nos aniversários, no Natal ou para pedir um favor – normalmente tem que haver alguma razão prática ou festiva para fazer contato, e para saber a diferença entre um amigo ocasional e um amigo de verdade, basta tirar a razão de cena.

Você não precisa de uma razão. Basta sentir a falta dessa pessoa. E, quando estão juntos, tratarem-se muito bem. Difícil exemplificar o que é tratar bem. Se são amigos mesmo, não precisam nem falar, podem caminhar lado a lado, em silêncio. Não é preciso trocar elogios constantes, podem até pegar no pé um do outro, delicadamente. Não é preciso se rasgar em manifestações constantes de carinho, podem dizer verdades duras, às vezes, elas são necessárias. Mas há sempre algo sublime entre os amigos de verdade. Talvez respeito seja a palavra-chave. Admiração, certamente. Cumplicidade? Mais do que isso. Sintonia? Acho que é amor. Só mesmo amando para você confiar a ele o seu próprio inferno. E para não invejar as vitórias um do outro. Por amor, você empresta suas coisas, dá o seu tempo, é honesto nas suas respostas, cuida para não ofender, abraça causas que não são suas, entra numas roubadas, compreende alguns sumiços - mas liga quando o sumiço é exagerado. Correria não é desculpa!

Se essas pessoas, que considera amigos (em pontencial), entraram na sua vida, não deixe que elas simplesmente, desapareçam. Infelizmente, a maioria das pessoas não só deixa, como contribui para que os amigos evaporem. Ignora os mecanismos de manutenção. Acha que amizade é algo que vem pronto e que é da sua natureza ser constante, sem precisar que a gente dê uma mãozinha. E aí um dia abrimos a mãozinha e não conseguimos contar nos dedos nem dois amigos pra valer. E ainda argumentamos que a solidão é um sintoma dos dias atuais, tão emergenciais, tão individualistas. Nada disso. A solidão é apenas um sintoma do nosso descaso.”

1 de jul. de 2012

Neste dia...


Respeita os companheiros que se te apresentem atormentados ou que se situam em posições diferentes da tua. 

Não os censures, nem os explores. 

Todos estão realizando experiências:
uns se edificam; 
outros retificam; 
diversos se complicam...

Cada qual sabe quanto lhe custa a situação em que se encontra.

Sê bondoso para com todos, sem te manteres conivente com ninguém.