30 de nov. de 2010

Parte de mim, descrita por Friedrich Wilhelm Nietzsche

“Eu mesma me tomei pela mão.
Eu mesma voltei a me tornar sã.”
Um ser tipicamente mórbido não pode vir a se tornar são, muito menos vir a se tornar são por sua própria conta.
Para alguém que é tipicamente saudável, uma doença pode, ao contrário até ser uma estimulação energética à vida, a viver mais.
É assim que vejo agora aquele longo tempo de enfermidade: é como se eu tivesse redescoberto a vida de novo, incluindo-me dentro dela. Eu degustei todas as coisas boas e até mesmo coisas insignificantes, como outros não as podem desfrutar com tanta facilidade – eu fiz de minha vontade para a saúde, para a vida, a minha filosofia.
Pois é preciso que se dê atenção a isso: os anos em que minha vitalidade foi mais débil, foram os anos em que deixei de ser pessimista: o instinto de auto-reestabelecimento me proibiu uma filosofia da miséria e do desânimo...
E é nisso que se reconhece, no fundo, a vida-que-deu-certo! No fato de um homem bem-educado fazer bem aos nossos sentidos: no fato de ele ser talhado em uma madeira que é dura, suave e cheirosa ao mesmo tempo.
A ele só faz gosto o que lhe é salutar. Seu prazer, seu desejo acabam lá onde as fronteiras do salutar passam a estar em perigo.
Ele adivinha meios curativos contra lesões, ele aproveita acasos desagradáveis em seu próprio favor – o que não acaba com ele, fortalece-o.
Ele acumula por instinto tudo aquilo que vê, ouve e experimenta à sua soma: ele é um princípio selecionador, ele reprova muito.
Ele está sempre em sua própria companhia, mesmo que esteja em contato com livros, pessoas ou paisagens: ele honra pelo fato de selecionar, pelo ato de permitir, pelo ato de confiar.
A todo tipo de estímulo ele reage lentamente, com aquela lentidão que uma longa cautela e um orgulho desejado inculcaram nele – ele testa o estímulo que se aproxima; ele está longe de ir ao encontro dele.
Ele não acredita nem no “infortúnio” nem na “culpa”: ele dá conta de si mesmo e dos outros. Ele sabe esquecer...
Ele é forte o suficiente a ponto de fazer com que tudo tenha de vir para seu bem...
Vá lá, eu sou o antípoda de um décadent: pois acabei de descrever a mim mesmo...

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