8 de fev. de 2010

Eu te amo, mas... - MARTHA MEDEIROS


Não há o que não haja no vasto mundo da internet. Geralmente descubro o que está rolando nesse tal planeta Cyber através da mídia convencional. Foi o que aconteceu quando, ao ler a revista Bravo, soube de um site que reúne pequenas frases que, em comum, têm o fato de começar com “Eu te amo, mas...”. É o www.loveyoubut.com, cuja finalidade não faço ideia qual seja, a não ser a de fornecer alguma inspiração a cronistas famintos por qualquer coisa que lhes sirva para preencher um primeiro parágrafo.

Tenho simpatia por tudo o que desmistifica o sagrado, e uma declaração de amor é de natureza sacra, faz parte das coisas aparentemente invioláveis. Sai geração, entra geração, o “eu te amo” segue no topo das paradas. De forma curta e milagrosa, faz desaparecer desavenças, raivas, dúvidas, muxoxos. É o abre-te sésamo da paixão, a concretização do grande desafio: fazer dois seres humanos acreditarem que o amor basta para lhes fazer feliz. Ô, responsabilidade. Então, surge um site espirituoso que nos lembra que todo amor, mesmo os mais sólidos, vem acompanhado do advérbio “mas”. Ou você acreditava que o amariam assim, sem nenhuma ressalva?

Eu te amo, mas você compra todos os presentes de Natal em outubro.

Eu te amo, mas você dá apelidos para si mesmo.

Eu te amo, mas você coloca pontos de exclamação em todas as frases!!!!

Eu te amo, mas você pendurou sua foto da formatura na parede.

Eu te amo, mas você insiste em dizer que O Alquimista mudou a sua vida.

Eu te amo, mas você fala de celebridades como se fossem seus amigos íntimos.

Esses são alguns exemplos divertidos (catados no site) de como o amor da nossa vida pode ser honesto, inteligente e lindo, mas não escapa de ter um ou vários hábitos enervantes.

Inspirador? Sim, mas proponho uma inversão: em vez de criar a sua frase secreta sobre a criatura que divide os lençóis com você (“Eu te amo, mas você dorme com o ar-condicionado na potência máxima”), procure especular o que ele, o amor da sua vida, diria a SEU respeito. De minha parte, vou exercitar minha humildade e imaginar tudo o que eu ouviria depois do “mas”. Daria uma bíblia, e iniciaria certamente com “eu te amo, mas você é maluca, dorme com a janela do quarto fechada com esse calorão”.

E mais. Engasgo com frequência, não sei me atirar de bico na piscina, costumo roer as unhas com pele e tudo, não gosto de comida japonesa, falo mal o inglês, acredito em anjo da guarda e não enxergo um palmo à frente sem óculos. Absolvida? Espero que sim. Enquanto o “mas” fizer vir à tona apenas os meus humaníssimos defeitos, não morro solteira. O importante é que o “mas” continue sendo precedido por um sincero “eu te amo”. Aí topo ar-condicionado na potência máxima e talvez até tire as meias pra dormir.

03 de fevereiro de 2010 | ZH N° 16235



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