2 de set. de 2009

Velhice - Rubem Alves

"Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, me interesso pela velhice como um acontecimento estético.
A metáfora mais bonita que conheço para a velhice é o crepúsculo, o pôr-do-sol.
O crepúsculo é lindo. Faz pensar.
No crepúsculo tomamos consciência da rapidez do tempo...
No crepúsculo sentimos o tempo fluir rapidamente.
Por isso muitas pessoas tem medo dele.
A famosa “happy hour” foi inventada como terapia para a tristeza do crepúsculo...
A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs.
As manhãs tem uma beleza única que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs.
A beleza do crepúsculo é tranqüila, silenciosa, talvez solitária.
No crepúsculo, tomamos consciência do tempo.
Nas manhãs, o céu é como um mar azul, imóvel.
Nos crepúsculos, as cores se põem em movimento:
o azul vira verde, o verde vira amarelo,
o amarelo vira abóbora,
o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo, tudo rapidamente.
Ao sentir a passagem do tempo, nós nos apercebemos de que é preciso viver o momento intensamente.

Tempus fugit - o tempo foge - portanto, Carpe diem - colha o dia.

No crepúsculo, sabemos que a noite está chegando.
Na velhice sabemos que a morte está chegando.
E isto nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única.
Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos...”


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