MULHER INDEPENDENTE (Martha Medeiros)
Estava autografando meu livro na Feira quando uma senhora alta,
elegante, já bem madura, chegou sorridente pra mim e disse: “Acho-te uma
mulher fenomenal”. Eu, toda sorrisos, tomei o livro que ela tinha em
mãos e me preparei para escrever uma dedicatória bem carinhosa. Ela
então complementou: “Mas eu não queria ser casada contigo: tu és muito
independente!”.
Concluí a dedicatória,
agradeci a gentil presença dela, enquanto que meu coração começou a
bater de forma mais lenta. “O que estou sentindo?”, perguntei a mim
mesma, em silêncio. Tristeza, respondi a mim mesma, em silêncio,
enquanto a próxima pessoa da fila se aproximava.
Em que eu
seria mais independente do que qualquer outra mulher? Quase todas as que
conheço trabalham, ganham seu próprio sustento, defendem suas opiniões e
votam em seus próprios candidatos. Algumas não gostam de ir ao cinema
sozinhas, já eu não me importo. Poucas moraram sozinhas antes de casar,
eu morei. Quase nenhuma, que eu lembre, viajou sozinha, eu já. E nisso
consta toda minha independência, o que não me parece suficiente para
assustar ninguém.
Fico imaginando que essa tal “mulher
independente”, aos olhos dos outros, pareça ser uma pessoa que nunca
precise de ninguém, que nunca peça apoio, que jamais chore, que não
tenha dúvidas, que não valorize um cafuné. Enfim, um bloco de cimento.
Quando eu comecei a ter idade pra sonhar com independência, passei a
ler afoitamente os livros de Marina Colasanti – foram eles que me
ensinaram a importância de abrir mão de tutelas e a se colocar na vida
com uma postura própria, autônoma, mas nem por isso menos amorosa e
sensível. Independência nada mais é do que ter poder de escolha.
Conceder-se a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e
vontades próprias, mas sem dispensar a magia de se viver um grande amor.
Independência não é sinônimo de solidão. É sinônimo de honestidade:
estou onde quero, com quem quero, porque quero.
Sobre a questão
da independência afugentar os homens, Marina Colasanti brincava: “Se
isso for verdade, então ficarão longe de nós os competitivos, os que
sonham com mulheres submissas, os que não são muito seguros de si. Que
ótima triagem”.
Infelizmente, a ameaça que aquela senhora
acredita que as independentes representam não é um pensamento arcaico:
no aqui e agora ainda há quem acredite que ser um bibelô (ou fazer-se
de) tem lá suas vantagens. Eu não vejo quais. Acredito que a
independência feminina é estimulante, alegre, desafiadora, vital; enfim,
uma qualidade que promove movimentação e avanço à sociedade como um
todo e aos familiares e amigos em particular. “Eu preciso de você”
talvez seja uma frase que os homens estejam escutando pouco de nós, e
isso talvez lhes esteja fazendo falta. Por outro lado, nunca o “eu amo
você” foi pronunciado com tanta verdade.
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