31 de jan. de 2011

Entre loucos, gavetas e a santa promessa de todo ano... [Tatiana Kielberman]

Há poucos dias estava conversando com uma amiga, aquele tipo de alma querida que “solta” as pérolas certas no momento mais preciso, e ela me disse algo que fez surgir relâmpagos em minha mente. Contou-me que, certa vez, uma pessoa próxima lhe disse existir, dentro de cada um de nós, um louco e algumas gavetas.
Cada gaveta corresponde a um tipo de sentimento, tal como raiva, alegria, tristeza, desespero, inspiração... Acontece que, de vez em quando, esse louco decide abrir uma das gavetas sem pedir licença e, então, dependendo do seu bom-humor, nos deparamos com grandes ou pequenas doses de emoção.
Isso me fez relembrar muitos momentos nos quais senti que as gavetas do meu coração estavam sendo abertas, não por mim, mas por algo semelhante a uma força maior. Talvez possa ser realmente um louco, um santo, um mágico, ou até mesmo Deusinho como muita gente acredita que seja. O fato é que nem sempre estamos preparados para o turbilhão de sentimentos que, às vezes, se aproxima, mas ele acaba vindo por um motivo forte – seja ele catártico ou simplesmente preventivo.
Não pude deixar de pensar, também, nesses dias de fechamento de ciclo, nos quais se costuma realizar promessas para um ano melhor e diferente. Fazendo uma reflexão, percebo que esse ano foi repleto de gavetas abertas, muitas até saltitantes e com vida própria. O louco se esqueceu trancar com cadeado e elas se abriram nos momentos mais (in)oportunos, trazendo uma euforia, ao mesmo tempo, entusiasmada e esbaforida.
Não foi um ano de quatro estações bem definidas – aliás, estamos começando a nos acostumar com o fato de que sol, frio, folhas caindo e chuva podem coexistir em um prazo de 24 horas. Não houve paz completa, mas guerras avassaladoras que nos fazem querer, cada vez mais, abrir a gaveta da compaixão.
Houve tumultos, medos, preocupações, mas também muita luz, energia e metamorfoses. Foi o ano da mudança – do preparar-se para o novo e encará-lo como parte de nós.
Fico pensando que, ao invés de fazermos promessas muito inovadoras para o ano que vem, talvez possamos nos comprometer apenas em conhecer esse louco responsável por nossas gavetas.
Quem será ele? Que forma desejamos que ele assuma?
Deixaremos que fique no comando ou assumiremos, nós mesmos, o preço de nossas emoções?
O novo ano pode ser a grande chance de conhecer a moradia dessa figura que, por tão louca, se faz capaz de equilibrar corpo e alma em um único ser.
“Mais louco é quem me diz – e não é feliz...”

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