21 de mai. de 2010

Cientistas americanos reprogramam material genético de célula

Edição do dia 21/05/2010
21/05/2010 07h31 - Atualizado em 21/05/2010 13h38

O desenvolvimento da técnica pode abrir caminho para a criação de genomas totalmente sintéticos, com a criação de células que não existem na natureza: capazes de produzir remédios, alimentos, ou até servir como arma.

FLAVIO FACHEL Nova York
Fascinante, mas também assustador. A ciência chegou lá, no lugar tão imaginado e prometido pela ficção: a vida artificial. Agora, o dilema: como o homem vai usar esse feito?
Foi o mais importante passo dado pela ciência na direção da sonhada criação da vida artificial.
Cientistas americanos conseguiram "reprogramar" uma célula, mudando o material genético dela, fazendo com que ela seguisse as ordens dadas por eles, e não pela natureza.
Foram 15 anos de tentativas. Primeiro, eles produziram em laboratório uma cópia do genoma de uma bactéria: o conjunto de todo material genético que fica armazenado dentro do núcleo celular.
Depois, eles mudaram algumas sequências de DNA por outras que não existem nessa bactéria, criando uma espécie de "marca" no material genético para simular uma modificação no genoma.
Na terceira parte da pesquisa os cientistas trocaram o genoma natural de outra bactéria pelo reproduzido e modificado em laboratório, fazendo com que ela passasse a se comportar com a outra, obedecendo aos comandos dados pelo genoma modificado.
O desenvolvimento da técnica pode abrir caminho para a criação de genomas totalmente sintéticos, com a criação de células que não existem na natureza: capazes de produzir remédios, alimentos, ou até servir como arma.
Logo depois do anúncio feito pelos pesquisadores, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu aos cientistas do governo um estudo completo sobre o assunto.
A Comissão Presidencial para o Estudo de Questões Bioéticas vai analisar a nova técnica. Obama disse que quer conhecer o potencial médico, ambiental e também os riscos para a saúde e para a segurança. Também quer recomendações dos cientistas para ações do governo que assegurem ao país os benefícios da pesquisa.
A equipe de cientistas norte-americanos é liderada pelo Dr. Craig Venter, que criou um instituto só para pesquisar manipulação genética. Ele acredita que em dez ou vinte anos, a criação de células sintéticas já será uma realidade.
Já a comunidade científica está dividida: todos concordam que o avanço é surpreendente. Mas muitos pesquisadores estão preocupados com a idéia da equipe americana de patentear a técnica de modificação e implante de genoma.
Por enquanto, os cientistas ainda não sabem como fazer para criar um genoma artificial capaz de fazer uma célula viver e fazer o que o homem deseja.
Os cientistas americanos criaram apenas as ferramentas básicas para esse tipo de pesquisa.
Mas o que eles conseguiram não é pouco.
Está entre as mais importantes pesquisas já feitas no campo da biologia genética, desde que o Gregor Mendel formulou as leis da hereditariedade, há 145 anos, passando pelo início do desenvolvimento de alimentos transgênicos na década de 70 e pela clonagem de seres vivos com a ovelha Dolly em 1996.

Agora, o que se abre é um gigantesco caminho desconhecido, que pode levar às mãos do homem a força misteriosa que funciona como o "motor da vida".
Dawkins: descoberta de dar nó no cérebro
Um dos maiores especialistas do mundo em genética e biologia molecular, o cientista britânico Richard Dawkins, reagiu com euforia à anuncia. Em seu site, o cientista disse que, embora inevitável, a descoberta é incrível. Segundo ele, as implicações são de "dar nó no cérebro".
"Acredito que estamos nos aproximando de tudo aquilo que vimos nos filmes de manipulação genética e tudo isso muito mais rápido do que esperávamos", afirma Dawkins.
Caminho para nova vida?
O assunto foi manchete em diversos jornais da Ásia. Jornalistas, especialistas e cientistas ainda estão tentando avaliar quais vão ser as consequências da pesquisa. Os principais jornais japoneses explicaram a descoberta na primeira página. Um deles disse que esse é "o caminho para uma nova vida".
Em entrevista a uma das publicações, um professor de microbiologia apontou que antes de avançar nas pesquisas, cientistas deveriam parar para discutir o que é a vida. Para ele, é uma tecnologia que cria vida e ainda não está muito claro como a sociedade vai interpretar a novidade. Outro pesquisador também levantou uma série de questionamentos e ainda perguntou: "Onde está o limite entre o natural e o artificial?"

Fonte: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2010/05/cientistas-americanos-conseguem-reprogramar-material-genetico-de-celula.html

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