12 de out. de 2010

A estrada é longa, o caminho é deserto.... [Pedro Paulo Monteiro]

Viver é caminhar numa estrada deserta e desconhecida. Nunca sabemos qual a paisagem após a próxima curva. Viver é incerto, porque é mudança contínua. Ao mesmo tempo sabemos bem o que ficou para trás, as lembranças iluminam a jornada. Elas são como a cesta de Chapeuzinho Vermelho. Dentro dela estão todas as experiências vividas. Quanto mais caminhamos, mais colocamos na cesta e nelas podemos confiar porque fomos nós a vivê-las. Ninguém pode viver por nós. Não conhecemos nosso destino, muito menos sabemos para onde estamos indo. Quando pensamos conhecer bem o caminho, eis que surge uma encruzilhada e um novo aprendizado. Desconhecemos o final da estrada, mas sabemos que ela termina. Enquanto não acabar, estaremos envelhecendo. Essa é a moral da história.
Envelhecer é para todos. Envelhecemos porque vivemos. É por isso que temos escolhas. Ninguém pode dizer que não teve escolha na vida. Se nós podemos mudar, então temos também a oportunidade de optar pela direção a seguir. Toda decisão tem consequências. Se a vida não parece generosa, mude as perspectivas, ainda há tempo. Envelhecer é mudar porque é transformação, um movimento anterior a nos tornar diferentes a cada passo.
Atualmente podemos viver mais do que os nossos avós. A longevidade é uma estrada longa. Temos mais opções do que tínhamos antes. Por um lado isso é magnífico, ter mais tempo de rever nossas ações do passado dando a elas novos significados no presente. Envelhecer compreende rever as experiências. Se o nosso tempo é único, a chance de mudar começa agora, exatamente onde estamos. É aqui e agora que traçamos as coordenadas rumo ao futuro. Por outro lado, é importante cautela. Pois também temos mais tempo de persistirmos no erro, dando voltas sem realizar o que é necessário. Muitos insistem no erro e permanecem perdidos na rota da falsa felicidade. Só existe felicidade quando realizamos coisas boas para nós e para os outros. Aí, sim, sentimos o contentamento no instante. Mesmo porque a felicidade é fugidia, ela somente pertence ao instante.
Para fazer a melhor escolha é importante saber quem está escolhendo. Decidir não é fácil, a vida é repleta de ambiguidades.  São tantos caminhos, e a cada momento nos deparamos com uma nova bifurcação, outro ponto de escolha. Por isso, o autoconhecimento é fundamental. Chapeuzinho Vermelho se perdeu na floresta porque se distraiu. Ao estarmos somente no divertimento ficamos no ruído, na confusão de opiniões contraditórias. Toda distração está fora, num lugar que a ninguém pertence. Evitar entrar em si mesmo, para estar fora, é estar suscetível à perda de direção, deixando os outros assumirem o comando.
Para saber quem somos, é necessário o silêncio, a travessia do deserto, a humildade para se curvar e fazer o caminho de volta. Ninguém pode evitar o inevitável, a companhia de si mesmo. Nascemos sozinhos e viveremos sozinhos, mas não podemos estar isolados, senão morremos.
Hoje sabemos que o cérebro só pode perceber o que está fora a partir daquilo que se encontra dentro. Ninguém pode enxergar com os olhos do outro, nem sentir exatamente o que o outro sente. Podemos compartilhar conquistas, descobertas, sofrimentos, contentamentos, desde que saibamos que não devemos insistir que o outro reconheça nossas experiências. Ninguém pode reconhecer o que ainda não foi possível conhecer.
O autoconhecimento é a saída, uma porta que só abre por dentro. Do lado de fora não há fechadura nem tampouco maçaneta. Fazer o caminho para dentro nos propicia novas paisagens.  Não podemos nos perder quando sabemos quem somos e onde estamos. Portanto, é necessário atenção e vigilância. Estar atento é estar incorporado no presente, aceitando a presença de si mesmo.
Somente alcançaremos a maturidade ao assumirmos ser quem realmente somos. Tornamo-nos responsáveis, ficamos mais vivos, mais velhos, mais sensíveis, e nada poderá nos afetar, a não ser que permitamos.
No processo do envelhecer consciente formamos escudos de luz para enfrentar quaisquer ameaças de lobos famintos e outros desafios que possam surgir pelo caminho.

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